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Curiosidades Gramaticais em meio ao Caos Aéreo...

Atualmente, no Brasil, a viagem de avião pode se tornar um grande problema ao usuário desse meio de transporte. O “cardápio de surpresas” é variado: filas gigantes, vôos cancelados, atrasos de toda grandeza, falta de informações, entre outros. Podemos escolher um “item” ou até fazer combinações. Uma espécie de “combo”, a ser solicitado no balcão da companhia aérea...

 

A imprensa tem cumprido o importante papel que lhe cabe: mostrar o dia-a-dia caótico dos aeroportos brasileiros. Em meio a tantas informações, algo parece oportuno: rever, gramaticalmente, algumas expressões que têm sido utilizadas com freqüência.

 

Vamos chamá-las de Curiosidades Gramaticais em meio ao Caos Aéreo. Note-as:

 

1. O verbo chegar: requer a preposição “a”, como verbo transitivo indireto. Do ponto de vista da norma culta, devemos evitar a utilização da preposição “em” com este verbo.

Portanto, prefira “ele chega ao aeroporto”. Evite, assim: “ele chega no aeroporto” (no = em + o). Aliás, deve haver cautela com a inversão: “Este é o terminal a que/ ao qual cheguei” (e não “Este é o terminal em que cheguei” ou “Este é o terminal no qual cheguei”);

 

2. O verbo aterrissar: na acepção de “descer à terra”, o verbo aterrissar (ou aterrar) provoca celeuma na pronunciação – devemos falar “aterrissar” ou “aterrizar”? De fato, não confundimos sem razão. Até os dicionaristas não esposam idéia uníssona acerca do tema. Enquanto o Houaiss admite ambos os verbos, o Aurélio, na trilha de Caldas Aulete, indica como válida tão-somente a forma “aterrissar”. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – VOLP admite uma e outra possibilidade. Assim, recomendamos que fique à vontade na hora da pronúncia, afirmando, sem receio: o avião aterrissará; o avião aterrizará; ou, até mesmo, o avião aterrará.

 

3. A tal da caixa-preta: como um valioso subsídio à elucidação das causas dos acidentes aéreos, este conhecido sistema blindado tem resistido, curiosamente, até mesmo à grafia correta! Não raras vezes, encontramos o substantivo grafado sem o hífen: “caixa preta”. É erro! Não se trata de “risquinho facultativo”, como pensam alguns... É hífen, e obrigatório, separando os dois elementos de um substantivo composto! Aliás, faz-se prudente relembrarmos o plural: a caixa-preta – as caixas-pretas. A regra impõe que se pluralizem os dois termos quando se tem a soma de um substantivo e um adjetivo, formando o substantivo composto.

 

4. A grafia de viagem: “g” ou “j”?

O substantivo viagem grafa-se com -g, à semelhança de todos aqueles terminados por -agem, com exceção de “pajem” – este, com -j. Do substantivo deriva o verbo viajar, naturalmente grafado com -j. Como se sabe, as formas verbais são decorrentes do infinitivo viajar, reproduzindo sua grafia. Por isso, conjugamos, no presente do modo subjuntivo: (que) eu viaje, (que) tu viajes, (que) ele viaje, (que) nós viajemos, (que) vós viajeis, (que) eles viajem. Esta última forma verbal, em negrito, não pode ser confundida com o substantivo, grafado com -g. Portanto, a resposta à pergunta é “depende”: há viagem com -g; há viajem com -j.

Note os exemplos:

- Sua viagem foi agradável?

- Espero que viaje bem?

- Hoje em dia, diante do caos aéreo, até comentamos: “Espero que viaje na viagem...”

5. Pergunta-se: “há infra-estrutura adequada?”

Este substantivo feminino indica o conjunto de instalações bastantes às necessidades humanas. Com freqüência, o vocábulo tem estado presente na mídia. Todos têm visto. É o paradoxo da presença da infra-estrutura – a palavra, nos jornais –, em face da ausência da infra-estrutura – a prática, nos aeroportos.

Com o prefixo infra-, usa-se o hífen se a palavra posterior iniciar-se por -h,-r,-s, ou vogal. Exemplos:

- Infra-hepático; Infra-humano; Infra-renal; Infra-som; Infra-assinado; Infra-estrutural; infra-estruturado; e outros.

 

Por outro lado, temos, sem hífen: infravermelho; infravioleta; infracitado; inframencionado; e outros.

 

Feitas as observações gramaticais sobre os vocábulos, não deixe de praticar as regras. Afinal, se para “bom entendedor, meia palavra basta”, é possível concluir que há algo em comum entre chegar, aterrissar, caixa-preta, viagem e infra-estrutura: “mais vale a prática do que decorar a Gramática.”

 

Eduardo de Morais Sabbag

Advogado, Palestrante e Conferencista. Professor de Língua Portuguesa e Direito Tributário no Curso Prima/IELF, em São Paulo/SP, Professor de Pós Graduação na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro e no Centro Salesianos em Lorena/SP. Autor das Obras “Elementos de Direito Tributário”, “ Repertório de Jurisprudência” e “ Exames da OAB- Testes e Comentários”. Mestrando em Direito Tributário.
www.professorsabbag.com.br.

 

Jornal Carta Forense, agosto/2007, p. F9

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