Homenagens
A Academia Paulista de Direito Criminal dispensa o merecido adeus a Waldir Trancoso Peres, o maior de todos.
A Academia Paulista de Direito Criminal (APDCrim), realizou justa homenagem ao maior tribuno do júri que o Brasil já produziu, Dr. Waldir Troncoso Peres, cujo passamento ocorreu em 12/04/2009.
A justa homenagem aconteceu durante o tradicional Curso Completo de Teoria e Prática do Tribunal do Júri, realizado no período de 14/02 a 04/07/2009, no auditório da Associação Comercial de São Paulo, com o apoio da Subsecção do Jabaquara da OAB/SP, na pessoa da Dra. Solange de Amorim Coelho, ministrado pelo criminalista Dr. Romualdo Sanches Calvo Filho, também presidente da APDCrim, no dia 23/05/2009, contando com a presença do eminente criminalista Dr. Mauro Otavio Nacif, bem como com a presença da Dra. Kattiê Ferrari, representando a Dra. Solange de Amorim Coelho, digna Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Subsecção do Jabaquara.
Na ocasião, foram relembradas passagens de combativa atuação do eminente tribuno do júri, Dr. Waldir, assim como doces recordações do denominado príncipe dos advogados - Waldir Troncoso Peres -, o qual encantou e seduziu por mais de cinco décadas os plenários do júri de São Paulo e do Brasil.
"O Dr. Waldir Troncoso Peres, como muito bem salientado pelo Dr. Mauro, não foi um dos maiores tribunos do júri que o Brasil já conheceu, mas simplesmente o maior.", bramou entusiasticamente o tribuno e advogado criminalista Romualdo Sanches Calvo Filho, o qual guarda com ternura um contato feito com o Dr. Waldir, no escritório dele, no ano de 2002, quando para lá se dirigiu, levando debaixo do braço um opúsculo sobre o tribunal do júri, objetivando obter um testemunho desse inquebrantável mestre do tribunal do júri de todos os tempos, o que obteve com muito orgulho e satisfação, cujo testemunho segue abaixo:
"Os autores Romualdo Sanches Calvo Filho e Paulo Fernando Soubihe Sawaya merecem o meu louvor, o trabalho científico muitos aplausos, o método de apresentação sinceros encômios, a utilidade da edição se patenteia fecunda, tornando-se manancial de aprendizado que deverá ser acolhido e meditado pelos advogados que pretendem na sua carreira tomar assento nas atividades perante o Tribunal do Júri." Prof.º Dr. Waldir Troncoso Peres
Seguem abaixo fotografias extraídas de tão grandioso evento e que ficarão para a posteridade da história do tribunal do júri, não só em nível de Brasil, mas também em nível mundial, uma vez que Waldir Troncoso Peres nada ficou a dever a Clarence Darrow, nos Estados Unidos, e Maurice Garçon, na França.
Morre o advogado criminalista Waldir Troncoso Peres.
O advogado Waldir Troncoso Peres, de 85 anos, morreu na noite deste domingo, no Hospital Albert Einstein, por conta de uma insuficiência renal. Seu corpo, que já foi velado no próprio hospital até às 13h, será transportado para sua cidade natal, Vargem Grande do Sul (interior paulista). O enterro está marcado para esta terça-feira (14/4).
Considerado "lenda viva das tribunas do júri" e "príncipe dos advogados criminais do Brasil", Troncoso Peres atuou por mais de 50 anos até o ano de 2004, quando foi vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), que prejudicou a sua fala. Ele trabalhou na defesa de mais de 130 homens e mulheres que mataram seus cônjuges. Entre eles, o famoso caso do cantor Lindomar Castilho.
Em entrevista concedida ao Jornal do Advogado, ele disse que acreditava no crime por amor. E ilustrou a afirmativa citando o romancista Somerset Maughan, que tem uma imagem muito interessante a respeito do amor. Ele diz que é um sentimento tão intenso que o homem e a mulher se fundem. E que o nascimento do filho é o resultado dessa fusão. Então, quando existe a ruptura – e a ruptura em regra é unilateral –, aquele que a sofreu, que é abandonado, rejeitado, é capaz de matar.
Ele também considerava o Poder Judiciário a coluna vertebral da civilização brasileira. Na sua visão, foi o único Poder que não se contaminou, “no curso histórico, com as ditaduras que vêm destruindo o nosso país periodicamente”.
A OAB de São Paulo lamentou a morte do advogado.“A Advocacia, especialmente a criminalista, perde um grande mestre, de notório saber jurídico, grande oratória e vasta cultura. Entendia que o advogado criminalista tinha de ter cultura científica, literária, filosófica e de matérias afins para que pudesse explicar os sentimentos e razões dos atos do cliente para o Júri. Deixa a grande lição da indispensabilidade do direito de defesa, do contraditório, de que o advogado criminalista garante um julgamento justo, o devido processo legal, pois defende o réu e não o crime”, afirmou o presidente da OAB paulista, Luiz Flávio Borges D´Urso.
Para D'Urso, Trancoso Peres está entre os grandes nomes da advocacia criminal, como Evaristo de Moraes, Dante Delmanto, Raimundo Paschoal Barbosa e Manoel Pedro Pimentel. “Estes advogados transformaram a advocacia criminal em arte, ao assegurar que ninguém é indigno de defesa por mais odioso que seja o crime que lhe seja atribuído”, afirma.
A Federação das Associações dos Advogados do Estado de São Paulo (Fadesp), também lamentou a morte de Troncoso Peres. Diz que ele não foi apenas um grande criminalista. “Foi um ícone da advocacia levada a sério por um homem que acreditava na capacidade do seu semelhante em ser indulgente, temperante, e, principalmente, via mortificado as misérias humanas”. Acrescentou, ainda, que ele foi referencial para todos os criminalistas e nunca esmoreceu nas causas em que atuou.
Leia a nota da Fadesp
Waldir Troncoso Peres não foi apenas um grande criminalista. Foi persiste sendo um ícone da advocacia levada a sério por um homem que acreditava na capacidade do seu semelhante em ser indulgente, temperante, e, principalmente, via mortificado as misérias humanas. Referencial para todos os criminalistas, Waldir Troncoso Peres nunca esmoreceu nas causas em que atuou. Advogado estrênuo, combativo, punha a exuberância de sua vasta cultura e profundo saber jurídico a serviço da guarda e sentinela dos direitos de seus constituintes. Orador de inigualável atilamento, tornava os júris em que atuava um espetáculo da razão humana. Waldir Troncoso Peres é insubstituível. Ocupa um lugar na história da advocacia brasileira ao lado de outros igualmente imortalizados pela atuação e contribuição que sempre viverão na memória dos pósteros.
A Fadesp — Federação das Associações dos Advogados do Estado de São Paulo, lamenta, com profundo pesar, o passamento do Advogado Waldir Troncoso Peres, e solidariza-se com a dor de seus familiares e amigos.
FADESP
Raimundo Hermes Barbosa (Presidente)
Sérgio Niemeyer (Diretor do Departamento de Prerrogativas)
Revista Consultor Jurídico, 13 de abril de 2009
http://www.conjur.com.br/2009-abr-13/morre-sao-paulo-advogado-criminalista-waldir-troncoso-peres2
Morre o advogado criminalista Waldir Troncoso Peres.
Faleceu na noite do dia 12, aos 85 anos, no Hospital Albert Einstein, em consequência de insuficiência renal, o advogado Waldir Troncoso Peres.
Considerado um dos mais importantes criminalistas do Brasil, Troncoso Peres atuou por mais de 50 anos até o ano de 2004, quando foi vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), que prejudicou a sua fala.
Seu corpo está sendo velado no próprio Hospital Albert Einstein até as 13 horas do dia 13, quando será transportado para sua cidade natal, Vargem Grande do Sul, onde um outro velório, para seus familiares, precederá o enterro, marcado para terça-feira.
Estudou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde se formou em 1946. Ele contou ao Jornal do Advogado, publicado pela OAB SP, que aos 21 anos fez seu primeiro júri em Casa Branca (SP), "por um apelo interior, um comando do coração". Segundo ele, a cidade tinha quatro advogados. "Dois estavam viajando e dois se deram por impedidos. Estava começando a cursar o quarto ano de Direito. Eu não tinha permissão legal para defender, mas, pela falta de defensor, fui nomeado pelo juiz."
Grandes Júris
Em 1974, perante o II Tribunal do Júri de São Paulo, Waldir Troncoso Peres defendeu o delegado de Polícia Sérgio Fernando Paranhos Fleury, ligado ao DOPS, acusado de chefiar o Esquadrão da Morte. Uma das acusações era a de que Fleury havia executado João de Souza Cruz, vulgo Dedé, colocando-o dentro de um saco de estopa de 60 quilos e, em seguida, no porta-malas de seu automóvel.
Durante a defesa, Troncoso Peres entrou dentro de um saco de estopa, do tipo exportação de café, deitando-se no chão atapetado de vermelho do Tribunal do Júri. O saco chegou até a sua cintura, com o que pretendeu provar que a acusação era inverossímil. Houve gargalhada geral no Tribunal. A absolvição foi unânime, por 7 x 0. Às 3 horas e 40 minutos da madrugada, quando terminou a sessão, Waldir Troncoso disse: "Ser palhaço é o preço que pago para livrar da cadeia um inocente!"
Defendeu mais de 130 homens e mulheres que mataram seus cônjuges. Entre eles, o famoso caso do cantor Lindomar Castilho, em 1980. Castilho, que havia matado seu ex-mulher, Eliane Grammont, após quatro dias e quatro noites de julgamento, foi condenado.
Ele dizia acreditar no crime por amor. "Somerset Maughan tem uma imagem muito interessante a respeito do amor. Ele diz que é um sentimento tão intenso que o homem e a mulher se fundem. O nascimento do filho é o resultado dessa fusão. Então, quando existe a ruptura – e a ruptura em regra é unilateral –, aquele que a sofreu, que é abandonado, rejeitado, é capaz de matar", disse ao Jornal do Advogado.
No âmbito dos chamados crimes passionais, Troncoso Peres assegurava que homens cometem mais crimes por todos os motivos. "As mulheres delinqüem muito menos do que os homens. Provavelmente, porque a mulher é mais resignada. Tem mais força interior, mais vigor, para resistir às adversidades da vida. Sou um apologista da mulher. "
Já foi saudado como "lenda viva das tribunas do júri" e como "príncipe dos advogados criminais". Mas depois da defesa do Lindomar Castilho alguns jornais, no afã de influenciar o julgamento, o apelidaram de "doutor mentira". Sem perder o bom humor, Troncoso Peres disse em entrevista na época que, em certas ocasiões, poderia até ter sido flagrado "cavalgando algumas fantasias", mas que o apelido não tinha podia vingar, como não vingou.
Ampliação do Júri
Troncoso Peres defendia a ampliação do júri para outras áreas, como em casos de crimes políticos, de corrupção ou contra a administração.
– Não tenho dúvida que isso seria a suprema forma de administração da Justiça. Tenho um grande amigo, que veio da ONU, e ele defende que os crimes de corrupção, de prevaricação dos funcionários públicos, fossem julgados pelo júri. Porque se eles representam a comunidade, ela teria o direito de julgá-los. O juiz togado tem que montar uma estrutura lógica, fazer o triângulo da sentença, que é narrativo, com o núcleo – que é a argumentação das razões determinantes –, o epílogo, que é a combinação da pena. Agora, para punir um ladrão político, um ímprobo na administração pública, você não pode exigir essa prova silogística, absolutamente lógica. Se você desse na mão do povo, garanto que ele acertaria na decisão. Porém, isso é infactível pela razão de que o Brasil é um país pobre - disse ao Jornal do Advogado.
Em uma palestra, há alguns anos, indicou o caminho para quem quiser ter sucesso na área criminal. "Muitos me perguntam o segredo do sucesso. Mas o sucesso tem apenas alguns pressupostos como o trabalho sem fadiga, a dedicação, a lealdade, o companheirismo, uma boa integração à classe, uma empolgação constante, a leitura e o estudo. E nós haveremos de conquistar ainda um grande mercado de trabalho para a advocacia criminal", recomendou Waldir Troncoso Peres.
http://www.expressodanoticia.com.br/index.php?pagid=OCBjvml&id=22&tipo=2FZYw&esq=OCBjvml&id_mat=9125
Roberto Delmanto homenageia Waldir Troncoso Peres
Faleceu no último domingo, 12/04, na cidade de São Paulo, o advogado Waldir Troncoso Peres (inscrito na OAB/SP sob o nº 5.755). Formado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, Turma de 1946, Troncoso Peres era considerado um dos mais importantes criminalistas do país, tendo exercido a advocacia por mais de 50 anos. Notabilizou-se enormemente por suas defesas no júri.
Leia abaixo o texto do advogado Roberto Delmanto em homenagem a Troncoso Peres, produzido exclusivamente para o PORTAL IBCCRIM:
A SACA DE CAFÉ E O PRANTO DOS MILITARES
Waldir Troncoso Peres, que aos 85 anos nos deixou esta semana, foi o maior advogado criminalista de sua geração. Simples na grandeza, desprovido de vaidade, infenso a honrarias, alegre, afável e acessível a todos que o procurassem, era um orador insuperável, sendo impressionante a velocidade com que seus pensamentos se transformavam em palavras belas e argumentos dificilmente retorquíveis. A esses dotes, aliava conhecimentos profundos não só na área penal e processual penal, mas também de psicologia, psiquiatria e literatura brasileira e estrangeira.
Afirmou Trotsky, que “o grande orador, quando fala, por sua garganta passa a voz de Deus”.
Assim era Waldir no júri – “a suprema paixão dos criminalistas”, como ele disse certa vez –, quando sua voz mais brilhava e se agigantava, tornando-se inesquecível para os que o viram atuar na tribuna da defesa ou na assistência da acusação.
Hábil estrategista, intuitivo, sabia improvisar como poucos. Foi o que aconteceu no julgamento do Delegado Sérgio Paranhos Fleury, acusado de pertencer ao “Esquadrão da Morte”. Fleury tinha sido pronunciado como partícipe da morte de um suposto delinquente, colocado dentro de uma saca de café e jogado em um rio. Para mostrar a inconsistência da acusação, Waldir, em sua defesa, tentou entrar de beca e tudo, no próprio plenário do júri, em uma saca de café semelhante a que teria sido usada no crime e que fôra juntada pela Promotoria. Não conseguindo, provou que mesmo ele, sendo mais magro e menor do que a vítima, cuja altura e peso constavam do exame necroscópico, não cabia dentro dela...
Além de centenas de júris, Waldir também atuou, com intensidade e igual brilho, durante a ditadura militar, na defesa de civis incursos na antiga Lei de Segurança Nacional perante as Auditorias Militares Federais. O Conselho de Sentença era composto por um juiz togado, chamado auditor, e quatro oficiais. Após a apresentação de razões finais escritas, na sessão de julgamento havia os debates orais. Em uma delas, defendendo um acusado, Waldir superou-se a tal ponto que, pela primeira vez na história das Auditorias Militares, quem estava na platéia viu mais de um militar do Conselho de Sentença chorar...
Como escreveu Guimarães Rosa, “há homens que não morrem, ficam encantados”. Mestre Waldir – como eu o chamava –, o Espanhol para os mais antigos e íntimos, encantou a todos que o conheceram e, encantado, continuará para sempre em nossa lembrança.
A seu pedido, na partida para a eternidade, sua família vestiu-o, sereno, com a beca que tanto amava e a que tanto honrou. Com ela – homem essencialmente bom, absolutamente íntegro, amigo, marido, pai e avô afetuoso – e com sua maravilhosa oratória, a esta altura certamente já convenceu e comoveu São Pedro, entrando no Paraíso.
Lá, haverá de ser o grande defensor dos colegas de ideais e de lutas que um dia forem ao seu encontro...
Roberto Delmanto - Advogado criminalista em SP
http://www.direitocriminal.com.br/site/noticias/conteudo.php?not_id=13269
Morre Waldir Troncoso Peres, um dos criminalistas mais respeitados do país
Apelidado de “príncipe dos advogados”, vargengrandense ficou conhecido por defender casos famosos
Vargem Grande do Sul deu adeus a um de seus filhos mais ilustres: o advogado dr. Waldir Troncoso Peres, falecido no último dia 12, aos 85 anos, em conseqüência de uma insuficiência renal. Estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Dono de uma carreira singular e retórica imbatível, dr. Waldir era simples e avesso a ostentações. Tornou-se uma “lenda viva das tribunas do júri”, destacando-se como um dos maiores criminalistas do Brasil, principalmente em casos passionais. Um dos mais famosos foi o do cantor Lindomar Castilho. Atuou até 2004, quando um acidente vascular cerebral (AVC) prejudicou sua fala e o afastou de seu trabalho.
Nascido a 30 de outubro de 1923, dr. Waldir era neto dos imigrantes espanhóis Severino Rodrigues Carreira e Joana Peres Gonçalves, que chegaram em nossa terra no ano de 1880, permanecendo na Fazenda Barreirinho. Desta união nasceram nove filhos: Juca, João, Antônio, Albina, Carolina, Emília, Olinda, Purificação e Belarmino, sendo o último o primeiro Prefeito de nossa cidade (dentre os anos de 1922 e 1923), e pai do dr. Waldir Troncoso Peres.
Belarmino Rodrigues Peres, casado com a Sra. Flora Troncoso tiveram, além de dr. Waldir, os filhos: dr. Moacir Troncoso Peres (Juiz de Direito, falecido num trágico acidente em 1937); dr. Aristides Troncoso Peres (médico ginecologista, radicado em Araçatuba) e a grande professora Darci Troncoso Peres de Carvalho, que empresta seu nome a uma Escola Municipal de nossa cidade.
Dr. Waldir aprendeu as primeiras letras nas Escolas Reunidas (prédio que hoje abriga a Casa da Cultura), estudando depois em Casa Branca. Mudou-se para São Paulo aos 16 anos, colando grau em Direito pela famosa Faculdade do Largo de São Francisco, em 1947.
Na década de 50 casou-se com a sra. Maria do Carmo Andrade Peres, com quem teve três filhos: Mônica, Moacir e Mauro.
Na Biblioteca Municipal “Vítor Lima Barreto”, espaço oferecido à família pela Prefeitura e Câmara Municipal, textos e imagens contavam um pouco da vida deste paladino do Direito criminalista, que honrou com seu trabalho o nome de sua terra natal.
Depois de ter sido velado na biblioteca, uma homenagem justa a quem passou a vida em meio a livros, dr. Waldir foi enterrado no Cemitério da Saudade, acompanhado da família, autoridades, representantes do Direito e amigos.
A morte de dr. Waldir teve repercussão nacional .
http://www.gazetadevargemgrande.com.br/anteriores/2009-04-18/cidade01.html
Waldir Troncoso Peres
O Brasil perdeu no dia 12 de abril um de seus maiores advogados criminalistas: Waldir Troncoso Peres morreu aos 85 anos, em consequência de insuficiência renal. Estava afastado das atividades desde 2004, quando foi vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), que prejudicou a fala. Nos dias 4 e 5, Waldir será homenageado pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.
Waldir nasceu em Vargem Grande do Sul, interior de São Paulo, onde foi enterrado vestindo a beca. Filho de agricultor espanhol, aos 16 anos veio morar em São Paulo. Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, formando-se em 1947.O presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D’Urso, lamentou a morte do criminalista. “A Advocacia, especialmente a criminalista, perde um grande mestre, de notório saber jurídico, grande oratória e vasta cultura. Entendia que o advogado criminalista tinha de ter cultura científica, literária, filosófica e de matérias afins para que pudesse explicar os sentimentos e razões dos atos do cliente para o júri. Deixa a grande lição de indispensabilidade do direito de defesa, do contraditório, de que o advogado criminalista garante um julgamento justo, o devido processo legal, pois defende o réu e não o crime.”
D’Urso afirmou que Waldir inspirou sua opção pelo Direito Penal e enverga o título “Princípe dos Advogados Criminalistas” por merecimento. “Em sua vitoriosa trajetória profissional escreveu seu nome entre os grandes criminalistas brasileiros, como Evaristo de Moraes, Dante Delmanto, Raimundo Pascoal Barbosa e Manoel Pedro Pimentel. Estes advogados transformaram a Advocacia criminal em arte, a assegurar que ninguém é indigno de defesa por mais odioso que seja o crime que lhe seja atribuído”, ressaltou.
Os advogados Raimundo Hermes Barbosa e Sérgio Niemeyer, presidente e diretor do Departamento de Prerrogativas da Federação das Associações dos Advogados do Estado de São Paulo (Fadesp), também lamentaram a morte do advogado. “Waldir Troncoso Peres não foi apenas um grande criminalista. Foi um ícone da Advocacia levada a sério por um homem que acreditava na capacidade do seu semelhante em ser indulgente, temperante e, principalmente, via mortificado as misérias humanas. Referencial para todos os criminalistas. Nunca esmoreceu nas causas em que atuou. Advogado combativo, punha a exuberância de sua vasta cultura e profundo saber jurídico a serviço da guarda e sentinela dos direitos de seus constituintes.”
Em entrevista ao “Jornal do Advogado”, Waldir disse que acreditava no crime por amor. E ilustrou a afirmativa citando o romancista Somerset Maughan, que tem uma imagem interessante a respeito do amor. Ele diz que é um sentimento tão intenso que o homem e a mulher se fundem. E que o nascimento do filho é o resultado dessa fusão. E que, quando existe a ruptura, e a ruptura em regra é unilateral, aquele que a sofreu, que é abandonado, rejeitado, é capaz de matar.
“Espanhol”, como era tratado carinhosamente pelos amigos, afirmava que, se o cliente cometesse um crime, seria defendido por ele. Se cometesse o segundo, também. Mas se cometesse o terceiro, não o defenderia mais, para não parecer que era “profissional do crime”.
Na mesma entrevista fez um análise do Poder Judiciário. “O Poder Judiciário é a coluna vertebral da civilização brasileira. Foi o único Poder que não se contaminou no curso histórico, com as ditaduras que vêm destruindo o nosso País periodicamente. Sempre defendeu a nossa liberdade, até quando não havia liberdade. Agora, porque encontram um ou outro juiz corrupto, transferem isso para o Poder Judiciário. Tenho o maior respeito pelo Poder Judiciário. Conheci um ou dois juízes corruptos em São Paulo. Falam que, por outras bandas, por outros Estados, existe corrupção. Mas a instituição do Poder Judiciário é o último resíduo da moralidade no Brasil.”
E falou de seu hobbie. “Meu hobbie é ir ao jóquei, aos sábados e domingos. Ia com grande prazer, agora vou muito pouco. Mas não se trata de descanso. Aí, o problema já é outro. Há uma razão interior subjetiva para você jogar. Quem joga é a criança e não o adulto. Se você admitir a tese freudiana, depois da fase analsádica, vem a fase da carência, da disputa e do lazer. As crianças brigam disputando. Então, não fui capaz de superar a fase lúdica. É um problema de falta de transcendência da fase. Vive dentro de mim uma criança. E sendo uma criança, não perdi a fé, o idealismo. Não vivo como um velho. Vivo do sonho, da fantasia, da palestra, da discussão, do exercício profissional. E me encanto, me deixo seduzir, quero ter co-participação no todo, no global. Então, se por um lado meu lado criança me leva ao jogo, por outro, me leva a uma produtividade profissional maior também, a um entusiasmo, a uma maior força que é a da criança, que luta, que debate e que quer vencer.”
E concluiu a entrevista afirmando que era um homem realizado. “Para mim, ser realizado é ser razoável advogado criminal. Não tenho a paranóia e a megalomania de ter projeção. Vivi feliz porque a Advocacia criminal está nas minhas células, na minha corrente sanguínea, está dentro de mim. Não sou capaz de fazer mais a bipartição entre o cidadão e o advogado, porque eles se conjugaram, de tal forma, que se integram e se confundem. Mas isso me deu uma felicidade extraordinária. Agora, no entardecer da minha vida, a minha suprema felicidade é ver essa mocidade ser melhor do que a minha geração. Ela apanhar o cetro da liderança da Advocacia, do civismo, do patriotismo. Tanto, que vivo fazendo palestras em faculdades de Direito, tentando motivar a mocidade, para que assuma a sua posição perante o mundo e cumpra o seu dever cívico. Peço aos moços para serem os juízes e cidadãos daquilo que fizeram no curso do dia, para ver se estão amando a ciência, a pátria, o próximo. Se eles têm o espírito comunitário, essa afetividade, quase no sentido panteísta, que integra o homem com outro homem e todos os homens num homem só; toda a humanidade numa pátria comum, para fazer a felicidade coletiva. Gosto muito dessa geração vindoura. Existe, ainda, uma intermediária, que também está a evoluir. Nós vamos progredir. Sou um grande otimista.”
Waldir Troncoso Peres atuou em centenas de júri, alguns de grande repercussão: defendeu o cantor Lindomar Castilho, que matou a tiros a mulher num bar em São Paulo em 1981; o procurador de Justiça Carlos Eduardo da Rocha Monteiro Gallo, pai da atriz Maitê Proença, que matou a mulher a facadas; e o delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, acusado de pertencer ao Esquadrão da Morte.
Em artigo publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, o advogado José Carlos Dias afirmou que Waldir foi o grande defensor dos pobres, como procurador da assistência judiciária que antecedeu a Defensoria Pública de hoje. “Lembro-me bem de que oferecemos um banquete ao Waldir quando se estimou que ele tinha completado mil júris, a maior parte em favor de gente humilde.”
Waldir deixa viúva d. Maria do Carmo Andrade Peres; os filhos Moacir Andrade Peres, casado com d. Maria Bernadete Antonialli Peres, d. Mônica Andrade Peres Wanderley Cabral, casada com o sr. Nicolas Wanderley Cabral, e Mauro Andrade Peres, casado com d. Patrícia Tanoue Peres; e as netas Luiza e Júlia. Milton Rondas, jornalista.
http://www.tribunadodireito.com.br/2009/maio/pg24.html
Órgão Especial do TJSP homenageia advogado Troncoso Peres
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo prestou nesta quarta-feira (22/4) uma homenagem ao advogado Waldir Troncoso Peres, falecido no último dia 12, aos 85 anos, em conseqüência de insuficiência renal.
Antes do início da sessão plenária do Órgão Especial, realizada no 5º andar do Palácio da Justiça, centro da Capital, o desembargador Walter de Almeida Guilherme procedeu ao elogio póstumo ao advogado. "Por delegação do DD. Presidente desta Corte de Justiça, desembargador Roberto Antônio Vallim Bellocchi, com a aquiescência dos demais integrantes do Órgão Especial, cabe-me, em nome do Tribunal de Justiça de São Paulo, proceder ao elogio póstumo ao dr. Waldir Troncoso Peres. Talvez tenha sido indicado – o que muito me honra, a par da inevitável tristeza de que sou tomado –, em virtude de ter sido eu, dentre os demais Desembargadores componentes deste Órgão, quem mais de perto tenha convivido com o homenageado. Não que assim tivesse ocorrido por muito tempo, dado que por poucos anos, ao longo de meados da década de setenta e início da de oitenta, tempo no qual fui Promotor de Justiça do I Tribunal do Júri de São Paulo, no qual o dr. Waldir pontificou".
Em seguida, o filho do advogado, desembargador Moacir de Andrade Peres, falou sobre a carreira de mais de meio século de Troncoso Peres, considerado um dos maiores advogados criminalistas do Brasil. “Aos 18 anos, no encerramento de um curso pré-jurídico, em novembro de 1941, meu pai fez um discurso em que disse, entre outras palavras: ‘a humanidade vive um dos períodos mais negros. Faz-se mister que lutemos com todas as forças. Não somos presas da covardia. Tudo faremos para desvendar para o mundo uma geração de gigantes’. Tão novo Waldir Troncoso Peres já demonstrava maturidade, consciência e comprometimento com a carreira a que se dedicaria a seguir. Eu tenho orgulho de ser seu filho”, afirmou o desembargador Moacir Peres.
No encerramento da homenagem, o presidente do TJSP, desembargador Roberto Antonio Vallim Bellocchi, fez menção “ao ilustre e augusto advogado lembrado nesta tarde” e disse: “oxalá se tenha brevemente no Salão dos Passos Perdidos do Palácio da Justiça uma galeria dos advogados que, como Waldir Troncoso Peres, atuaram no Tribunal do Júri”.
http://www.tj.sp.gov.br/noticias/News_View.aspx?Articleid=2144