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Homenagens

Dr. Fuad Abílio Abdala

 

22/10/1918 a 23/04/2005

A advocacia paulista sofreu inquestionavelmente uma enorme baixa no seu seleto quadro no último mês de abril com o passamento do Dr. Fuad Abílio Abdala - «22/10/1918 a U23/04/2005 -, deixando, além de familiares e amigos, centenas e centenas de colegas advogados e integrantes da população mais carente lançados à orfandade, uma vez que esse brioso e talentoso advogado cumpriu à exaustão seu papel de marido, pai, amigo dedicado e guru dos operadores do Direito que o procuravam diuturnamente para solucionar questões diversas sobre o Direito e a prática forense, nomeadamente os acadêmicos, bacharéis e advogados recém formados, sendo todos sempre bem recebidos, de forma graciosa e espontânea, por esse gigante de espírito e de coração, o qual também achava sempre um jeitinho de cavoucar um precioso espaço na sua repleta agenda para também prestar assistência jurídica gratuita aos necessitados, sendo assim um verdadeiro anjo dos acadêmicos e advogados, bem como da população carente em geral.

O Mestre Fuad, como carinhosamente gostava de chamá-lo, era cândido e afável nos gestos, simples e manso no falar, com uma inteligência aguçada e sensibilidade ímpar, brincalhão e espirituoso. Tinha um único defeito: não sabia dizer não àqueles que o procuravam por diversas necessidades, fosse na área do Direito, fosse na área da assistência social, certo também ser graduado neste ramo.

Já aposentado como assistente social, num lampejo divino, deliberou, para a sorte da nova geração de advogados que estava por vir, prestar vestibular, ingressando na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco no ano de 1976, já aos 58 anos de idade, concluindo seu bacharelado no final de 1980, iniciando seu auspicioso périplo pela advocacia bandeirante nesse mesmo ano, atuando preponderantemente nas áreas cível e criminal, inclusive como defensor dativo e dedicado, dispensando aos hipossuficientes a mesma atenção e estima que oferecia àqueles que o constituíam como patrono, sendo a humildade o traço marcante de sua personalidade e a sabedoria era atributo que lhe sobrava para passar a todos aqueles que amava.

Conheci o Mestre Fuad no ano de 1985, quando eu ainda era um romântico, assustado e inseguro acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, mal sabendo a distinção entre mandado e mandato, chegando assim ao escritório do Mestre Fuad com essa e centenas de outras dúvidas jurídicas, algumas formuladas por oras e oras a fio ao telefone, as quais foram, de maneira paternal, solucionadas com carinho e paciência por esse verdadeiro Guerreiro de Justiniano e paradigma de ser humano! Cheguei às vezes ruborescer de vergonha, uma vez que minhas consultas jurídicas eram intermináveis, esquecendo-me da longa fila atrás de mim! Ajudou-me na primeira ação por mim intentada - uma separação consensual -, já na qualidade de advogado recém formado, assim como nas dezenas e dezenas de ações que se seguiram. Contudo, sua característica bonachona e generosa não lhe permitiam perder a calma! Ele também prestou assistência social e jurídica gratuita por mais de três décadas à Casa Transitória, entidade espírita, situada no bairro do Tatuapé, em São Paulo, a qual tinha por escopo prestar todo tipo de auxílio material e espiritual à população carente, confessando-me certa feita o Mestre Fuad que fazia tudo isso porque adorava os pobres!

Era um homem carinhoso e extremamente zeloso com sua família, principalmente com seus 8 filhos, 7 adotados de coração, mais sua doce Palmira, esposa fiel e dedicada que lhe acompanhou até os últimos minutos.

Esse anjo dos advogados e dos pobres não depositou seu coração nos bens materiais desta vida, os quais perecem com o tempo pela ação implacável da corrosão. Antes, esse anjo investiu naqueles bens que lhe serão úteis para a eternidade, os quais assim não podem ser corrompidos e corroídos, sem prejuízo de ter lançado nos corações daqueles que o conheceram a semente do trabalho, da fé, da solidariedade, da fraternidade e, principalmente, o incondicional amor pela advocacia e a combatividade incessante em prol das boas causas.

Essa mais que merecida homenagem póstuma agora por mim feita ao querido e inolvidável Fuad Abílio Abdala poderia muito bem ser mais uma daquelas que freqüentemente encontramos, também com merecimento, em espaços reservados de jornais, não fossem as dificuldades padecidas por esse iluminado advogado: foi e fez tudo isso e muito mais na condição de portador da hanseníase, a qual lhe impossibilitava qualquer sensibilidade nas mãos, sem contar ainda o fato de ter dado luz a um sem número de pessoas, embora sensorialmente não a tivesse, uma vez que era deficiente visual como eu sou. Em suma, esse anjo dos advogados e dos pobres concluiu seu curso de Direito sem poder escrever, sequer em braile, em razão da hanseníase, e sem ver, uma vez que não podia enxergar com os olhos da carne, enfim, concluiu seu curso de Direito nas Arcadas só de ouvido, sem nunca jamais reclamar do fardo que Deus lhe destinou, combatendo o bom combate e dando para os advogados e pobres aquilo tudo que poderia, por conta de suas condições físicas e sensoriais, exigir receber.

Mestre Fuad: seu corpo foi cremado no cemitério da Vila Alpina, tendo suas cinzas se transformado na semente virtuosa que você lançou em nossos corações, aguardando com sofreguidão vê-lo na vida eterna. Obrigado por você ter existido, nosso sal da Terra.


 

Romualdo Sanches Calvo Filho

Advogado, Professor, Autor e Tribuno do Júri

Secção Paulista da OAB preste justo tributo a Fuad Abílio Abdala.



A Ordem dos Advogados do Brasil, por deferência de seu DD. Presidente, Dr. Luiz Flávio Borges D’Urso, ainda com o apoio de seu Departamento de Cultura e Evento, na pessoa de seu diligente Diretor Dr. Umberto Luiz Borges D’Urso, por iniciativa da Comissão de Resgate da Memória da OAB/SP, esta representada pelo laborioso Presidente Fábio Marcos Bernardes Trombetti, promoveu na data de 18/05/2006, às 19h, no Plenário dos Conselheiros, sito no 2.º andar da Praça da Sé, n.º 385, merecida cerimônia de homenagem póstuma ao saudoso e querido Fuad Abílio Abdala, o qual nos deixou em 23/04/2005, produzindo uma fenda na Advocacia Bandeirante que jamais será tapada a contento.

A concretização de tão grandioso evento também contou com a imprescindível colaboração de amigos e colegas do homenageado, como o Dr. Carlos Alberto Maciel Romagnoli e a Dra. Vera Lúcia Machado Eid, também da Comissão de Resgate da Memória da OAB, do Dr. Kozo Denda, pertinaz Presidente da R. Subsecção do Jabaquara da OAB/SP, além de administrador imbatível, da Dra. Solange de Amorim Coelho, Vice-Presidente da Subsecção do Jabaquara, a qual articulou, de maneira generosa e impecável, a efetivação dessa mais que justa solenidade póstuma, do Dr. Silvio Lemos, amigo sempre presente do falecido Fuad, além de outras figuras eminentes do mundo jurídico e familiares do saudoso causídico.

A Comissão incumbiu o advogado criminalista Romualdo Sanches Calvo Filho, amigo do Dr. Fuad há mais de 20 anos, a honrosa tarefa de proferir palestra versando sobre o périplo de amor retratada na trajetória de vida do pranteado advogado. “Tudo que disser nesta palestra acerca do saudoso amigo Fuad Abílio Abdala será ainda muito pequeno diante da grandeza de seu espírito.”, asseverou com voz embargada o palestrante, concluindo seu discurso com um trecho do prefácio constante do livro O VENCEDOR DE SI MESMO, biografia romanceada do homenageado escrita por Ruy Cintra Paiva: “Sei que o meu caminho para Deus não será tão difícil, porque basta seguir a poeira de Estrelas que caíram dos pés de Fuad Abílio Abdala.”28/05/2009, p. 08).

Prefeitura da Estância Turística de Salto/SP e personalidades do mundo jurídico prestam justa e merecida homenagem ao saudoso Dr. Fuad Abílio Abdala.

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